Nos últimos dias,
observamos que muitas pessoas mudaram a foto do perfil do Facebook e colocaram
uma mensagem de apoio e solidariedade às vítimas dos atentados ocorridos
durante a última semana em Mogadíscio, capital da Somália.
O fato que ceifou a
vida de pelo menos 300 pessoas fez com que o país africano voltasse aos
noticiários através de flashes sobre essa grande tragédia. A imensa quantidade
de notícias brotando minuto a minuto trouxe duas sensações, de um lado, um
grande susto sobre o que havia acontecido e, do outro, um sentimento de total
desconhecimento sobre a condição da Somália, um país quase nunca falado pelos
veículos de notícias.
As poucas informações
que chegam até nós, pela TV e redes sociais, ocorrem quando piratas somalis
sequestram ou saqueiam algum navio petroleiro ocidental. Não há muita novidade nessa abordagem, nossa
história é majoritariamente escrita do ponto de vista do homem branco, o Brasil
mesmo, só começa a aparecer na história mundial quando os europeus cruzam com
os indígenas, em 1500. A valorização da história europeia como motor das
transformações sociais, levou a cultura americana a referenciar sua existência
a partir de acontecimentos relativos à história do homem branco, o que
naturalizou a desvalorização da história africana e indígena em nosso país.
Assim, a proposta do nosso
trabalho é trazer até vocês um pouco da história e da condição econômica e
social da Somália, um país localizado no extremo Nordeste Africano, região mais
conhecida como “Chifre da África”, nome cunhado por pesquisadores em função de
sua formação geográfica, semelhante a um chifre bovino.
Oficialmente conhecido
como República
Federal da Somália, o país possui um dos menores PIBs e IDHs do mundo,
aparecendo ao lado de Serra Leoa sempre nas últimas colocações. A mortalidade
infantil chega a 35% até os 5 anos, o que significa que apenas 65% das crianças
conseguem viver após essa idade. Quando conseguem chegar à adolescência ou à vida
adulta, carregam os estigmas decorrentes de problemas alimentares na infância.
A organização Médicos sem Fronteiras acredita que 75% da população Somali sofra
de algum tipo de subnutrição.
Além de toda essa tragédia, o país
vive uma guerra civil há pelo menos 20 anos, conta com um mercado interno pobre,
com pouca diversidade de produtos e uma incapacidade de comercializar
internacionalmente qualquer tipo de commodities, pois o clima é seco a maior
parte do ano, além disso, a falta de estabilidade no governo e a carência de
tecnologia impedem a ascensão e desenvolvimento econômico e social do país.
Até o final da década de 1980, sua principal
atividade econômica era a pesca, regiões marítimas próximas à Somália são
abundantes fontes de peixes e frutos do mar. A partir da explosão da guerra
civil, evento que abalou a soberania nacional, muitas nações, europeias e asiáticas,
de forma clandestina, invadiram o território marítimo somali e iniciaram
atividades de pesca. Além dessas invasões, o GREENPEACE acusou a Suíça e a Itália
de despejarem lixo tóxico no mar somaliano. Essas atividades clandestinas
contribuíram para a escassez de peixes nas regiões próximas às praias, e
obrigaram os pescadores a buscarem uma nova prática econômica. Foi assim que
nasceu a “Pirataria Somali”, atividade criminosa na qual o principal objetivo é
sequestrar e saquear navios estrangeiros em busca de resgate ou pilhagem (indicação
– filme Capitão Philips. Sony, 2013).
O fundamentalismo religioso também
se configura como um dos problemas que o país enfrenta. Várias regiões do
território somali são dominadas por grupos religiosos fundamentalistas, que por
falta de um governo central, coordenam a política e a justiça de muitas vilas e
cidades. Os casos de apedrejamento de mulheres, torturas e pena de morte são
comuns. Grupos ligados à Al-Qaeda e ao Boko Haram ganharam força nos últimos
anos e resolveram brigar pelo poder central. É o caso da guerrilha islâmica al-Shabab, que ascendeu no cenário do
país em 2007, e tem práticas parecidas com as usadas pelo Estado Islâmico. A
presidência Somali atribuiu a esse grupo o ataque à capital Mogadíscio e
decretou caça aos membros e líderes religiosos ligados à al-Shabab. Situação
que complicará ainda mais a já fragilizada e conturbada Somália.
Crianças Subnutridas acompanham a mãe em busca de alimentos e água.
Mapa da Somália –
O País fica localizado na região conhecida como Chifre da África
Um pirata Somali
segura uma Ak-47
Por Joel Paviotti
Referências
http://www.greenpeace.org/italy/Global/italy/report/2010/inquinamento/Report-The-toxic-ship.pdf
http://www.greenpeace.org/italy/Global/italy/report/2010/inquinamento/Report-The-toxic-ship.pdf
http://www.dw.com/pt-br/seca-pobreza-e-aus%C3%AAncia-do-estado-agravam-a-fome-na-som%C3%A1lia/a-15254370
http://www.africaurgente.org/fome-e-crise-humanitaria-na-somalia-ver-fotos-e-videos/
http://www.bbc.com/news/world-africa-15336689
Os ataques recentes me levaram à ver o quanto sou "ausente e ignorante" nas questões humanitárias internacionais.
ResponderExcluirTexto claro e clareador.
Obrigada Joel Paviotti pela elucidação.