Os tambores são instrumentos de percussão que existem desde as eras mais remotas da humanidade, acredita-se que os primeiros eram troncos ocos de árvores tocados com os galhos e com o passar do tempo, com os homens aprendendo a caçar, perceberam que ao esticar a pele de um animal sob o tronco, obtinha-se um som mais agudo de maior alcance. Devida à capacidade sonora e relativa facilidade de confecção os tambores eram utilizados tantos para festas e rituais quanto para uma função importantíssima, a comunicação social. Transmitir mensagens, alertas e contar histórias. Certamente ao pensarmos em tambores é difícil não associar a África e seus “batuques”, em verdade que esses servem para acompanhar e dar ritmo as danças e cantos africanos, para além disso os tambores africanos “falam”, representam uma linguagem africana. Aqui trazemos um pequeno texto que aborda o tema, vale a pena conferir.
O tambor também carrega seus significados sagrados, para religiões de matriz africana os tambores são como entidades de respeito máximo. Para os xamãs, o som do tambor alinha-se a batida dos nossos corações, é um catalisador de energia e que o ritmo das batidas altera nossa percepção e expande nosso estado de consciência, permitindo-nos entrar em contato com energias mais sutis, intangíveis.
Nós que aqui escrevemos, não podemos dizer o que é e o que não é verdade, mas podemos convidá-los a buscar. Sobre os nossos tambores temos o maior apreço e respeito, pedimos licença para tocá-los e nunca deixamos nada em cima de seu couro. São guardiões! Agora o texto do Gianni Albanese que mencionamos acima para conhecerem um pouco mais do tema...
TAMBORES QUE FALAM
“Em toda a África negra, o tambor, além de ter uma função musical, foi, e é, um dos principais meios de comunicação social. Se é tocado numa colina, o som de um tambor pode ser escutado numa área de quarenta quilómetros. Para que seja mais eficaz a transmissão da mensagem, é frequente o toque dos outros tambores intermédios cada sete ou dez quilómetros.
Na tradição cultural europeia criou-se a ideia estereotipada de que entre os povos africanos os tambores seriam um instrumento de guerra. Esta é uma ideia equivocada. Os tambores são um meio de comunicação que permite às pessoas comunicar entre si novidades importantes, através deles apela-se à solidariedade e ao trabalho em conjunto na reparação de uma ponte ou de uma estrada ou ainda a limpeza de um rio ou um lago, e são usados também com a finalidade de convocar a comunidade para as reuniões ou para as celebrações rituais.
Para ser mais exatos, os tchreman (tambores que falam), mais do que emitir sons, pronunciam palavras, porque quem os toca fá-lo para transmitir notícias, conta histórias e narra gestos heroicas dos antepassados.
Ao longo da história de África, os tambores substituíram os livros e as pessoas que os faziam soar eram muito sábios, eram verdadeira e autenticamente bibliotecas vivas. O africano distingue os “tambores que falam” daqueles que são usados só como instrumentos musicais. Os tchreman são utilizados unicamente nas celebrações oficiais e a pessoa que o toca é um “consagrado” a este serviço, enquanto que os outros são instrumentos “profanos”, e podem ser tocados em qualquer ocasião e por qualquer pessoa. O próprio termo tchreman indica contemporaneamente o tambor e aquele que o toca. Entre os dois existe uma união indissolúvel. Tchre significa ensinar, indicar e educar; man significa povo, nação, grupo ou assembleia. Assim, tchreman indica um indivíduo que educa e instrui o povo.
Cada uma das partes do tambor é um elemento vivo, insubstituível e, antes de iniciar a transmissão da mensagem, o homem que o fará soar invoca o “espírito” de cada uma das partes. Em primeiro lugar, agradece à árvore, porque deu o seu tronco para construir a caixa de ressonância. Em seguida, agradece ao animal, que ofereceu a sua pele, com a qual foi feita a membrana. Agradece ainda à liana, a partir da qual se fizeram as cordas e assim sucessivamente, até agradecer ao osso, que, batendo sobre a pele, cria o som e a mensagem. Se faltasse um dos elementos, o tambor não era completo, e por isso não poderia falar.
Os elementos que fazem com que o tambor fale são três: a mão do tocador, as varetas curvas e a pele. As palavras saem do tambor sob a forma de som e os seus diferentes significados dependem da pressão e dos ritmos do toque. Logicamente, para entender a mensagem é preciso ter algumas lições de ‘linguagem de tambor’.”
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